terça-feira, 22 de setembro de 2009

Olha, ando meio sem assunto e essa chuva não colabora com o humor de ninguém. Daí que eu li que eu estava num mês ruim, de crise astral. Olha, se tem um lance que me deprime é ficar sabendo dessas coisas depois. Quer dizer, o certo seriam nos avisar que vai rolar uma crise astral pra gente já ficar esperta. Mas não, tudo surpresa. Meu inferno astral funcionou mais ou menos assim (bom, inferno astral é meio que um modo de arrumar desculpa pro mês tenebroso que foi agosto, porque, as vezes eu fico meio irritada com os astros e começo a achar que astrologia é coisa de retardado)

Primeira semana: INTOLERÂNCIA. Todo mundo é imbecil.

Segunda semana: MAIS INTOLERÂNCIA. Só eu sei. É do meu jeito e acabou, porque todo mundo é imbecil...

Terceira semana: PONDERAÇÃO. Começo a pensar nos rumos da minha vida.

Quarta semana: DEPRESSÃO MORTAL. Eu sou uma bosta, minha vida é uma bosta, o mundo é uma bosta.
E o legal da quarta semana é que caiu no fim de agosto, quando tava aquela chuvinha gostosa boa pra cortar os pulsos e deixar o sangue escorrer na enxurrada.
Mas tudo isso passou e agora tudo tá bem, exceto alguns detalhes como meu salário, fui fazer uma analise financeira e bom.... Não quero falar de valores para não ser indelicada, mas digamos que eu tenho um sexto do que achei que tinha. Mas, não é motivo para tristeza porque o fato de eu ter chegado VIVA e relativamente BEM aos 21 anos é algo que merece ser celebrado.
Agora, passada a TPM Astral eu voltei a escrever aqui! quer dizer, vou tentar. prometo.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Sou incrivelmente desastrada, vivo com manchas roxas espalhadas pelo corpo sem saber de onde vieram, caio, derrubo as coisas, dou diversas topadas por dia, tropeço milhares de vezes, enfim, sou um perigo pra mim mesma e pra quem cruzar o meu caminho. Se fosse só isso, tava bom, o problema é que em relação a minha vida amorosa eu não sou mais cautelosa ou cuidadosa Desarmada, sem truques, artimanhas e com essa mania ridicula e infantil de falar tudo que eu tenho na cabeça e demonstrar o que eu sinto, eu só conseguir colocar pra correr a maioria das pessoas que eu gostei.
Pois é. Ontem foi um dos piores dias da minha vida. Não me lembro de tanto desesepero, mas percebi, realmente, de uma maneira engraçada, através da autopiedade e da hipocrisia, que algum dia, quando tudo aquilo tivesse terminado, eu poderia ser uma pessoa melhor, já que estaria mais forte, sábia e compassiva.
Mas ainda não estava(estou) pronta para aquilo.
É, eu já tivera dias mais racionais...
Mas, para minha surpresa, estava de fato cansadíssima. consegui dormir rapidamente. Em­bora pensasse que na verdade não seria capaz, de forma alguma. Nunca mais, quero dizer.
Mas, como nem tudo são flores, algumas horas mais tarde, acordei com um sobressalto, cheia de horror. Comecei a pensar que eu estava exagerando, que tava viajando, para tentar me consolar.
Mas não era nenhum consolo. Porque eu me sentia como se estivesse no inferno. E compará-lo com o inferno de outra pessoa não diminui em nada a dor do meu. quer dizer, se estão serrando a per­na de uma pessoa com uma serra enferrujada, ela não se con­sola com o fato de que a pessoa na cela ao lado está sendo pregada numa mesa a marteladas.
Bom, daí eu queria ligar. E pensava será que eu enlouqueci completamente? Pois é, não aguentei e liguei. Eu precisava voltar. Ti­nha de lutar por ele! Tinha de reconquistá-lo! Como é que tudo ia acabar ali? Parecia que eu tinha dobrado a esquina errada em algum universo paralelo, onde as coi­sas ainda pareciam minha vida, mas era tudo mau, sinistro e errado. Pensava que tinha que falar com ele, naquela hora. Ele não se importaria se eu telefonasse meia noite e meia. Quero dizer, era sobre o meu namorado que falávamos. Ele era meu melhor amigo. Ele me entendia. Ele me conhecia.
Eu pensei que falaria com ele, e o dia seria esquecido. O corte em nossas vidas seria endireitado e não ficariam marcas. A cicatriz desapareceria. Tudo seria ajeitado e consertado. Tudo voltaria ao seu curso. Da maneira como sempre estivera destinado a ser. Foi tudo um erro terrível, uma confusão desagradável, mas ne­nhum dano permanente foi causado. Aí que ele male má falou comigo. Voltei arrastada e consegui durmir mais um pouco. Depois acordei denovo.
Querendo ligar, mas ia esperar clarear o dia Pois é, vocês devem achar que eu enlouqueci. Bom, talvez seja verdade. Talvez eu esteja com a cabeça fora do lugar, por causa da dor.
A maioria das minhas amigas falam: "Tenha um pouco de amor-próprio, Kenia".
Mas ontem eu falava que meu namoro importava mais para mim do que o meu amor-próprio. Não se tratava apenas de algum romance de colegial adolescente que dera errado. Não se tratava de romance. Tratava-se de amor. Pelo menos, da minha parte
Eu amava Ele. Ele era parte de mim. Isso era bom demais para ser simplesmente posto de lado.
Liguei. Dessa vez sem resposta e deixei que tocasse. Talvez umas cem vezes. Poderiam ser mil vezes. Sabia que ele estava escutando e não queria atender. Mas mesmo assim, deixei tocar sem parar. E, lentamente, a espe­rança me abandonou. Ele não iria falar comigo.
Eu estava louca em pensar que podia ter ele de volta apenas por­que o queria de volta. Devia estar fora de mim em pensar que podia simplesmente ignorar o fato de que ele disse que não queria e que cansou. Ele terminou comigo, pelo amor de Deus. Terminou tudo. E vagarosamente, a sanidade voltou. Olha, andei pesquisando e acho que qualquer psiquiatra diria que eu esta­va sofrendo de Rejeição. Que o choque por ele ter terminado tão repentinamente foi excessivo e eu não conseguia assimilae. Que eu, simplesmente, não podia aceitar a situação, mas não sabia lidar com ela. Era mais fácil para mim fingir que nada de mal tinha acontecido real­mente e que, se eu fingisse que tudo poderia ser arrumado, de fato seria.
Me Sentei no chão da sala frio e escuro. Depois de muito tempo, desliguei o telefone.
Meu coração, que batia muito acelerado, voltou ao normal. Minhas mãos pararam de tremer. Minha cabeça parou de fingir e fantasiar. E só restou a maior e mais vazia tristeza que já senti em minha vida. Tristeza tão grande quanto um continente. Tão profunda quanto o Atlântico. Tão vazia quanto o cérebro da moça que trabalha comigo. E mesmo que eu me sentisse tão cansada quanto uma pessoa de mil anos de idade, percebi que não conseguiria voltar a dormir. A dor da perda que sentia era grande demais para me deixar dor­mir. E eu queria, desesperadamente, dormir. Qualquer coisa para deter aquele sentimento. Como eu desejei que a tia fosse uma neurótica. Que guardasse pílulas para dormir, antidepressivos em qualquer gaveta, no banheiro, em qualquer lugar. Mas ela não era e isso, claro, acabava com qualquer chance, por mínima que fosse, de conseguir achar algum remédio. E o meu de enjoo não ajudava. Ah, como eu desejava que algum conhecido meu traficasse drogas. O que eu não daria por qualquer coisa que me fosse oferecida, imediatamente.
Na realidade, o pior era que as chances de encontrar até mesmo uma bebida alcoólica eram pouco promissoras. O povo lá não bebe muito.
Continuei sentada no chão frio. Realmente eu me sentia necessitada de uma bebida. Beberia até a aguardente de banana, se soubesse onde encontrar. Me sentia tão insuportavel­mente solitária, que me veio a idéia de acordar a tia e pedir para me dar uma bebida, mas fiquei cheia de sentimento de culpa. Ela estava tão preocupada comigo e, se ela conseguiu dormir, eu, em sã consciência, não podia acordá-la pra isso.
Voltei pro quarto. Honestamente, não conse­guia me lembrar da última vez em que eu tinha comido alguma coisa. Não sentia fome. Só pensar em comer me enjoava. Sabia que não ia dar conta. E sinceramente, não conseguia acreditar que aquilo estivesse acontecendo comi­go. Porque eu sempre tive um otimo apetite Passei meus anos de adolescência rezando desesperadamente para ser anoréxica. O fato é que nunca perdia meu apetite, não importava as circunstâncias. Nervosismo por causa de provas, entrevistas para empregos, brigas com outros namorados, intoxicação alimentar - nada, a não ser a morte, faria a mínima diferença para minha capacidade de comer. E agora, pela primeira vez em minha vida, eu não estava com fome. Na verdade, sentia horror diante da idéia de ter que comer. Estava sem a menor vontade. Não tinha o menor impulso nesse sentido. Se pelo menos estivesse me sentindo assim quando tinha 17 anos. Pensaria que era uma das poucas privilegiadas.
Mas eu estava cansada e infeliz demais para desejar qualquer coisa. E então, embora me partisse o coração, perguntei pra uma amiga minha se ela achava que era definitivo. Mais uma vez ela disse que sim. Senti que não chorava por dentro, mas agora sangrava por den­tro. Sangraria até morrer. Depois disso minhas mãos tre­miam, minha testa suava, eu me sentia doente no coração. E eu precisava trabalhar. Nesse periodo havia ocasiões em que eu sentia que Ele, mais cedo ou mais tarde, voltaria. Que ele me amou tanto que, simplesmente, não po­dia parar de me amar da noite para o dia. Era apenas uma questão de tempo. Depois já comecei a pensar que ele iria ficar com as moças. Daí, foi bem pior. O ciúme me despedaçava. Minha cabeça estava cheia de cenas imaginárias sobre a maneira como ele pegaria as outras moças. Não podia suportar a idéia de que ele desejasse outras pessoas. Isso me enchia de uma raiva poderosa e impotente. E que raiva. Tinha vontade de matar os outros. Tinha vontade de soluçar histericamente. Ah, que sentimento horrivel. E tão profundamente inútil. E sem qualquer sentido.
Se você deixa de ter alguém ou alguma coisa, sente sua perda e, depois, passado algum tempo, preenche o buraco que ficou em sua vida, a ausência, aos poucos, fica cada vez menor e, afinal, desapare­ce. Há um sentido na dor. Há um motivo e uma direção para ela.
Mas eu não ganharia nada em sentir ciúmes. E o pior é que o ciúme era causado por mim mesma. Era minha própria imaginação que me provocava a dor. Era o equivalente emocional de eu pegar uma navalha e dar um grande corte no meu braço, na minha barriga ou na minha perna. Ciúme era automutilação. Tão doloroso e inútil quanto. E eu sentia a dor não porque algo aconteceu comigo, mas por­que deixaria de acontecer. Eu não sei porque sentia isso. Só sei que feria. Depois pensava em outra coisa e depois me lembrava de que aconteceu mesmo, que ele não queria mais. A consciência disso me magoava a cada vez com igual intensidade. A décima vez em que aconteceu foi tão terrível, tão cho­cante e tão nauseante quanto a primeira. Pensava em beber, mas se bebesse ia acabar fazendo merda, tinha certeza. Nunca pensei que um dia diria isso, mas a bebida não é realmen­te a solução. Drogas, talvez. Mas não bebida.
E tinha de parar de pensar apenas em mim mesma. Precisava fazer isso. E seria capaz de fazer isso.
Ainda amava muito ele, ainda queria que ele voltasse. Ainda estava com o coração partido. Ainda sentia falta dele, como se sente a falta de um braço ou uma perna. Provavelmente, ainda vou chorar todas as noites, antes de dormir, durante o próximo século inteiro. Mas não me sinto mais tão aleijada pela minha perda. Quer dizer, meus tornozelos tinham sido quebrados. E isso me jogou no chão, arrebentada, e me deixou ali deitada, com muita dor, incapaz de me levantar.
Mas estava apenas machucada. Muito, na verdade.
Mas, ao contrário das primeiras impressões, nada estava quebra­do. Agora, eu vou tentar dolorosamente ficar de pé, vendo se ainda podia caminhar.
E, embora mancasse muito, descobri, para minha alegria, que podia.
Não digo que não sento ciúme. Que não sinto ódio. Que não amo. Que não quero mais. Claro que sim.
Mas eu preciso continuar.
:(