quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Alguém entra na sua casa, rouba suas coisas, agride você. Esse alguém cometeu, de uma só vez, vários crimes. Previstos em vários artigos da Constituição.
Alguém entra na sua vida, rouba seu tempo, destrói sua confiança, agride sua auto-estima, estilhaça o pouco que resta da sua confiança no amor. E sai ileso. Mas não seria esse o pior crime que alguém pode cometer com outra pessoa?
Agressão só é penalizada quando alguém encosta a mão em alguém? Como se pune quem causa uma ferida que não está exposta? Acredito que tomar uma surra de um boxeador deve doer menos do que ser esculaxado. A dor física passa em algumas horas ou, em casos mais graves, alguns dias. Pra dor física existe remédio. Pras feridas, existe curativo. Mas quem cura a dor de um coração destruído? Como se cura a dor de uma confiança perdida? O que fazer com as feridas cravadas no coração de uma pessoa que sai na rua descrente do mundo? Como penalizar o agressor que, sem usar mãos, armas ou objetos cortantes e pontiagudos, causou ferimentos graves em alguém? Por que ninguem previu isso na lei?
As pessoas lotam consultórios psiquiátricos, se entorpecem de remédios para a ansiedade, pra depressão, pra pressão, pra dormir, pra acordar. Remédio pra viver. Pra fazer viver quem quer morrer. Pro que não tem remédio. Pra dor que não passa. Pra ferida que ninguem vê. Vãs tentativas de resolver o caos interno. As pessoas tentam remediar uma dor que parece nunca ter fim, que vem de dentro. Bem fundo.
Entendo perfeitamente crimes passionais. Entendo perfeitamente quando minha amiga diz que não consegue mais conversar com o ex-namorado porque tem vontade de bater nele. Entendo meu amigo que diz que preferia ver a namorada morta do que com outro. Sinceramente, entendo. Quando alguém te machuca, te decepciona, te magoa, a dor é tão grande que você quer agredir a pessoa de volta.
Você se sente impotente, enganado, ferido. Frustrado. Dà vontade de sumir. Tudo desaba na sua frente. Você sente que perdeu seu tempo, sua vida, sua auto-estima, suas forças. E qual a pena pro agressor? Qual a pena pra alguém que entrou na sua vida, na sua casa, nos seus sonhos, nos seus planos e, num piscar de olhos, destruiu tudo como se tivesse esse direito?
O que sempre penso e falo com meus amigos é que vingança não é remédio. Nem fazer justiça com as próprias mãos. O tempo se encarrega disso.
Acreditam que as pessoas que usam da confiança e boa vontade das outras nunca vão se dar bem na vida. Ou não vão ser felizes. Ou nunca vão conseguir amar de verdade. Ou não mereciam a gente. Ou que a gente deve agradecer por ter se livrado de um encosto. Ou sei lá o quê! Nunca fui boa conselheira.
Talvez essas sejam as formas da vida punir quem brinca com o coração dos outros.
Não sei mesmo.

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