quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Estou sozinha. Inteiramente sozinha. Completamente sozinha.
E mesmo assim, não estou. Ninguém tem segredo nenhum a respeito de mim mas eu tenho tantos que acabei com tendinite de tanto por pra fora.
E mais uma vez eu estava escondida no banheiro. E como de costume. Estava soluçando. Soluçando com tanta força que na verdade consegui fazer uma grande poça de aguá no chão do banheiro. Um verdadeiro lago formado por toda minha vergonha, confusão, medo e dor.
Mas como eu poderia voltar atrás agora? Tudo estava no lugar certo.
Eu vinha tentando me convercer de que isso era normal. Todas as pessoas, no meu lugar, devem se sentir assim. Esses dias convesei com uma amiga minha a respeito e usei a palavra "Ambivalente", evitando usar a expressão muito mais exata: "completamente dominada pelo pânico".
Vinha tentando me convecer de que todos os meus sentimentos eram comuns. Apesar de todas as provas em contrário.
Durante o dia, corre tudo bem. Eu recuso várias ideias. Mas a noite elas me consomem. Minha amiga me chamou de "louca" (e ambas concordamos com essa definição). Mas não considero adequado discutir essas questoes aqui.
Na verdade, eu não queria destruir nada nem ninguém. Sei que essa parte da história não é feliz, mas estou compartilhando aqui, porque alguma coisa estava prestes a acontecer no chão do banheiro. Tipo aqueles supreacontecimentos astronomicos. Alguma coisa assim.
Daí, no chão do banheiro. O que aconteceu foi que comecei a rezar.
Rezar sabem, tipo... pra Deus.
Da maneira que aconteceu, foi uma estreia pra mim. Deixando de fato a polêmica de que se Deus existe (não, fazemos assim, esqueçamos essa polêmica definitivamente). Primeiro, uso a palavra Deus, quando poderia muito bem usar as palavras: Jeová, Buda, Alá, Zeus... enfim...
Mas todos esses nomes me parecem impessoal demais. Acho que eu própria não conseguiria rezar pra nenhum deles. Não tenho nada contra nenhum desses termos, sinto que são todos equivalentes. porque são todos descrições adequadas ou não para o indescritivel.
Mas acho que todos nós precisamos de um nome funcional para toda essa indescritibilidade e Deus é o nome que mais me soa caloroso, por isso, uso ele.
Até escrever aqui, tive algum tempo para formular minhas opiniões. Porque no meio daquilo tudo, eu não estava interessada em formular opiniões. Estava interessada em "salvar minha vida". Eu finalmente percebi que parecia ter atingido um estado de impotência e desespero que ameçava a minha vida.
E o que eu disse a Deus no meio dos soluços desesperados: "Oi, Deus. Tudo bem? Eu sou a Kenia."
Isso, eu estava falando com o criador de tudo como se tivessemos sido apresentados em uma festa. Mas procurei trabalhar com aquilo que conhecia nessa vida, e essas são as palavras que sempre uso em algum inicio de relacionamento.
Na verdade, isso era tudo que eu poderia ter dito pra evitar dizer: "Sempre admirei muito o seu trabalho..."
"Desculpe incomodar o senhor tão tarde..." continuei... "Mas é que estou com um problema sério. E desculpe também por nunca ter falado com o senhor assim... diretamente. mas espero de verdade ter sempre expressado minha gratidão por todas as bençãos que o senhor me deu na vida..."
Esse pensamento me fez soluçar com ainda mais força. Deus esperou eu me acalmar. Me recompus o suficiente pra continuar... "Não sou nenhuma especialista em oração como o senhor sabe. Mas o senhor poderia fazer o favor de me ajudar? Estou precisando desesperadamente de ajuda. Não sei o que fazer. Preciso de uma resposta. Por favor me diga o que fazer, por favor me diga o que fazer, por favor me diga o que fazer, por favor me diga o que fazer..."
Assim a prece se reduziu nessa frase... "por favor me diga o que fazer". Inumeras vezes. Não sei quantas vezes implorei. Só sei que implorei como alguem tentando salvar a sua própria vida. E eu não parava de chorar.
Até que - muito de repente - aquilo parou.
Muito de repente, percebi que não estava mais chorando. Na verdade, acho que parei de chorar bem no meio de um soluço. Dei um jeito de levantar e sentar pra ver se via algum ser Grandioso que tinha levado embora meu choro. Mas não tinha ninguém ali. Eu estava sozinha. E eu estava cercada por um silêncio. Era um silêncio totalmente imovel. Nunca havia sentido tamanha imobilidade antes.
Então, escutei uma voz. Era apenas a minha própria voz, falando dentro de mim. Mas aquela era uma voz minha que eu nunca tinha escutado antes. Perfeitamente sensata, calma.
"Volta pra cama, Kenia"
Imediatamente, ficou claro que era essa a unica coisa a ser feita. Eu não teria aceitado nenhuma outra resposta. Eu não teria confiado em nenhuma outra voz. Acho que só nos são fornecidos a única resposta possivel para determinado instante. E, naquela hora, era a única resposta possível. Volta pra cama, porque você não precisa a resposta final agora, as 3 da manhã de uma quinta feira.
Volte pra cama...

3 comentários:

Rita disse...

tiro o chapéu ás tuas palavras e revi-me nelas... adorei o blog mesmo!

Patrícia Marques disse...

Nossa, li seu post sobre internet e morar sozinha e me identifiquei totalmente....mas nesse último blog você me emocionou...
Tem horas que estamos totalmente perdidas, mas no final é tudo tão simples....basta dormir e tudo passa.

serenata do amor disse...

eu me identifico com voce pois também moro só e é um tédio a solidão geralmente nos atormenta a noite e aí cadê o sono fiquei emocionada