segunda-feira, 29 de junho de 2009

Ah, o amor...

Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;
É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?
Sempre achei um "soneto" forte. Exagerado. Assim como tudo na época em que Camões escreveu. Mas, parando para analisar melhor, um texto de 1595 é tão atual quanto se fosse escrito ontem. Camões é genial. E é nessas horas que a gente vê que o amor é amor desde que o mundo é mundo. Amor é amor em qualquer época. Em qualquer situação ou circunstância. É legal notar essas coisas porque assim a gente percebe que os sentimentos não mudam com a moda, com valores, com épocas diferentes. Por outro lado, a dor de perder alguém é a mesma também. O nó na garganta acompanhado de uma "incomensuravel" sensação de impotência, aliada a uma inevitavel sensação de vazio que chega a tirar o ar. Isso é o que eu já senti e o que qualquer pessoa vai sentir daqui a 100 anos, e é isso que é fascinante. E é por isso, SÓ por isso, que falar de amor nunca sai de moda. Nunca é assunto "batido". Haverá sempre quem se interesse e quem queira falar do assunto. Amar não sai de moda.
Parando para analisar o soneto, me pergunto como não conceituar o amor a não ser dizendo que ele arde? O amor só pode arder! Não existe outra maneira de descrever a maneira como se sente isso. E quanto a doer... dói, heim? E como dói! Dói quando não é correspondido. Dói quando é, mas não na mesma proporção. Dói quando a dúvida da reciprocidade bate. Dói quando o outro sofre. Dói quando o outro te deixa. Mas, ao mesmo tempo que dói tanto é como se a dor fosse tão pequena. Porque né, logicamente, se a dor fosse tão grande, faria com que nos afastassemos, faria com que nosso instinto de sobrevivência afastasse o motivo dela, como fazemos com todas as outras: se queimar o dedo dói, não relamos no fogo. Se bater a cabeça dói é só não bater a cabeça. Mas eu nunca ouvi falar de alguém que deixou de amar porque amar dói. Tem gente que se afasta ANTES de amar, mas depois que começou, aí já era. Por isso que é um contentamento descontente. Às vezes, você nem queria tá passando aquilo, porque amar nos deixa burras e vulneraveis. Entretanto, não há armas para lutar contra isso.

"É um não querer", realmente. Não querer sofrer. Não querer que nada de mal aconteça ao dito cujo, a relação. Não querer se envolver. Esses "não quereres" só existem porque por trás deles existe algo muito além de simples bem querer. Esse medo, essa resistência, essa insegurança, só o amor causa.
"É solitário andar por entre a gente" É meio cafona, mas é a verdade. Quantas vezes você não tá no meio de um monte de gente e se sente só? Quantas vezes não esteve entre seus melhores amigos mas sentiu falta daquele conforto que nenhum deles podia te dar? É que, quando existe amor, só aquele "filho-da-mãe" supre o vazio. Não importa quantas milhões de pessoas especiais existam no mundo. Naquele momento só ele pode resolver a questão.
Por outro lado, as alegrias que o "amor" traz nunca são suficientes, de maneira a você nunca se sentir satisfeito ao ponto de dizer: "Ai, já foi felicidade demais, agora tá bom". Não há contentamento, há somente uma vontade de ter mais e querer mais. É uma alegria que transborda, que vem de dentro, que inevitavelmente promove sorrisos...
No amor também não há perdas quando se trata do outro. Não importa qual seja o sacrificio. Pode te causar prejuízos. Pode representar perdas para você, não importa.

Na parte do "querer estar preso por vontade" é que Camões matou a pau mesmo! Tem coisa mais certa que isso? Você diminui as saidas com os amigos. Deixa de sair sozinho pra balada e não quer outra coisa. Você é capaz de passar o domingo assistindo Faustão e se sentir feliz assim. E percebe que algumas coisas não tem mais graça se ele não estiver por perto.
E se mesmo com essa doação, o cara te magoa da forma mais ordinária que exista, você continua sendo leal a ele. Passa por um período "fechado pra balanço" de tal maneira que se o Kaká fizer um strip tease na sua frente você chora lembrando de como era lindo quando ELE levantava a camisa. E a sua lealdade vai além da fidelidade. Ela alcança um patamar que te faz não contar os segredos dele pra ninguém. Te faz procurar justificativas para cada mancada que ele deu, pra cada vez que ele te destratou, pra cada mentira que ele contou. Te faz jogar a culpa de tudo em você mesma e ficar uma noite inteira acordada perguntando o que foi que você fez de errado, quando no fundo, você sabe que não fez.
Camões deveria estar no auge da inspiração mesmo. Porque só assim mesmo ele conseguiu descrever tão bem o amor

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